Monday, April 16, 2007

Mula ruça

Estou que não posso: há realmente pessoas cultas e inteligentes a ficarem francamente admiradas por saberem as (inexistentes) habilitações literárias de, por exemplo, deputados; por exemplo, Zita Seabra. (A expressão habilitações literárias é aberrante). (Estou a basear-me apenas no que li num blog, já não sei qual.)
Desconfio que igual perspicácia é usada para avaliar, digamos, o carácter porque assim já se explica esta indiscriminação em que vivemos.

Também se vê que afinal não é por sentimento democrático ou de avaliação pragmática do valor de cada um que andam misturados o doutor e o indouto. É só porque 'o pessoal' pressupõem graus académicos, e quiçá poderes ocultos, a uns e a outros.

De qualquer modo temos uma réstia de "o rei vai nu". Melhor que nada.
Era bom era que chegasse ao "o nu é rei".

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Dicionário:
Não há que confundir a designação formal de "título profissional" com a designação 'social', do dia-a-dia.
Em Portugal a um licenciado, por exemplo, em engenharia mecânica, chama-se, na rua, "engenheiro". A outro, licenciado em, por exemplo, serviço social, chama-se "doutor". Quer dizer, em linguagem corrente não se diz "licenciado em engenharia mecânica" mas sim "engenheiro mecânico" ou "engenheiro" se mais não interessar para o caso. (Do mesmo modo que não se acrescenta sem existir pertinência a "especialidade": projecto de máquinas, tecnologia mecânica e produção, fluidos e calor, etc., etc.)
Se julgam que se esse licenciado fôr à Ordem dos engenheiros, lá não o tratam por engenheiro, enganam-se. Como o haviam de tratar?!
Tal como um licenciado em Direito se trata por doutor independentemente de ser advogado ou não.
Assim como se continua a chamar "engenheiro" a um que tenha feito o mestrado.
E não conheço nenhum doutorado em engenharia que prefira "doutor" a "engenheiro".
E na Faculdade é universal, no tratamento aos professores, o "senhor engenheiro". "Senhor professor" é para ser usado como a noz moscada.
Deixem-se lá de confusões. É claro que se responde: "engenheiro" e é claro que isso significa "licenciado em engenharia" e não "inscrito na ordem". Isso da Ordem já não é um assunto académico, é €conómico.
Se julgam que os professores da Faculdade estão inscritos na Ordem, enganam-se. (A não ser que tenham negócios por fora.)
São, digamos, assuntos internos!

Esta conversa é muito triste e anacrónica: parece que estamos no tempo em que se chamavam carruagens para ir às espanholas.

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