Tuesday, April 8, 2008

Baú

Hoje (ontem, na verdade) a esfregona fez anos . E lembrei-me disto:

Tendo ouvido dizer que a esfregona tinha sido inventada "pelos espanhóis", dei por mim a cismar nesse útil, se bem que esguio, objecto. Deixo aqui as minhas congeminações.
A primeira coisa que atrai a minha enevoada atenção é a expressão "os espanhóis". Não me parece uma objectiva descrição da realidade. O facto de um qualquer Manolo, inspirado sabe-se lá por que estranha musa, (estranha, sim, porque como o demonstram estas linhas, a inspiração pode ser bem caprichosa...) ter concebido tal genialidade, não deve espalhar a culpa por toda a Espanha, mesmo gozando Manolo da cidadania espanhola. Talvez o génio nem gostasse de ser espanhol. Talvez desejasse, como a maior parte dos portugueses de mente sã, ter nascido noutro país, na Nova Zelândia, por exemplo. Bem, não se deve dizer os espanhóis. É uma generalidade excessiva. Para lá de que, assim, se garante um totalíssimo anonimato que Manolo talvez não desejasse. Talvez não só maldissesse o seu país como também ansiasse pela fama, coisa vulgar em gente moderna, sendo-lhe esta, assim, se bem que merecida, cruelmente roubada.
Mas mais ideias me atormentam: Terá sido um homem? Pessoalmente ficaria mais tranquilo se tivesse sido uma mulher. A mulher de Manolo. Isso! Pode bem ter sido. Se calhar, depois de ter tido a útil ideia, decidiu doar os créditos do feito ao marido e garantir assim, segundo acreditaria ela, que jamais sofreria maus tratos, tamanho o sentimento de dívida que Manolo, então, carregaria. Todos sabemos que os espanhóis são dados a espancar as esposas (Não os critiquemos levianamente: no lugar deles que faríamos nós?), daí não seria de todo estranho este altruísta gesto da senhora.
Continuando o meu raciocínio: as espanholas, muito compreensivelmente, tendem a não dar razões de queixa aos irascíveis maridos e, consequentemente, são muito atreitas a limpezas profundas e frequentes. Disso resultam inevitavelmente, por deficiente conhecimento das extensivas regras de Higiene, Saúde e Segurança do Trabalho, mazelas físicas. A necessidade é muito engenhosa. Daí que, para colmatar as suas maleitas mas continuando a limpar eficazmente, a mulher de Manolo tenha engendrado a esfregona. Não quero parecer o Prof. Hermano mas assim parece-me que a história fica melhor.
Acresce que, se tivesse sido de facto um homem - coisa que eu, já deixei bem claro, rejeito por inverosímil - que dizer das preocupações dos machos espanhóis? Que raio de hombre se preocupa em arranjar maneira de limpar mais facilmente o chão? Não, o homem espanhol tem outras preocupações: trazer a rédea curta à mulher, como já vimos, os toros, a independência da sua região e todo um sortido de festas tradicionais aberrantes que só por si o deixam, geralmente, ocupado por todo o ano - a curar mazelas, em reconstruções e nos preparos da próxima. Não, decididamente o homem espanhol não tem na sua lista de prioridades "arranjar maneira de limpar o chão sem ter de andar de cu prò ar".
Boa! Esta frase fortuita realça outro forte indício de que o assunto é feminino. Notem, se fazem favor, a expressão "de cu prò ar". Já estão a ver. As pobres señoritas, além do infame trabalho, ainda tinham, muitas vezes, de aturar umas investidas dos seus hombres, motivados pela convidativa posição. Isso sim, faz parte daquilo que se espera do homem espanhol e se coaduna com ele. Mui macho!
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(Pronto, já chega.)
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