Friday, January 15, 2016

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“Junto ao Douro neste sitio aspero, aonde chamão as Letras, està huma grande lage com certas pinturas de negro, & vermelho escuro quasi emfórma de xadres, em dous quadros com certos riscos, & sinaes mal formados, que de tempo imemorial se conservão neste penhasco (…): os naturaes dizem, que estas pinturas se envelhecem humas, & se renovão outras, & que guarda esta pedra algum encantamento: porque querendo por vezes algumas pessoas examinar a cova, que se occulta debaixo, forão dentro mal tratadas, sem ver de quem”.

Ao fundo deste penedo havia uma entrada para uma gruta, cujo centro ainda ninguém se atreveu a investigar. Num relatório que António de Sousa Pinto e o reitor João Pinto de Moraes, mandaram à Academia Real das Ciências, consta que


“querendo um clerigo de Linhares examinal-a, sahiu d’ella mudo, não tornando a recobrar a falla, e nem por escripto disse o que lá dentro viu.
Já se não vê a tal gruta, mas vê-se o sitio onde, pelos annos 1705, entraram uns desconhecidos, com picões, alavancas e outros instrumentos, e convidando operarios do logar de Nogarêllo (aos quaes pagaram generosamente) para os ajudar, romperam a gruta, e consta que levaram uma grande cruz de prata e outros objectos de valor. Diz-se que no verão mana das fendas d’este rochedo um betume, semelhante a petroleo. Ao fundo do penedo, da parte que olha para o Douro, existe um portal, que parece obra da natureza, e dá entrada para uma grande sala, com assentos em redor, e no meio uma grande meza, tudo de pedra. N’esta sala ha uma porta, que provavelmente conduz a outras interiores, que ninguem tem querido examinar. Consta que o padre Domingos Mendes, na manhã de S. João, do anno de 1678, com sobrepeliz e estola, pretendeu penetrar n’estas concavidades, em busca de thesouros encantados; mas que, entrando na segunda sala, sentiu um cheiro tão pestilente, e teve tal medo, que fugiu tremendo, e ficou mentecapto o resto dos seus dias, que foram poucos. Também se diz que pouco depois de sahir d’este antro, lhe cahiram todos os dentes."

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