Friday, November 17, 2006

Justiça social

Entre parvoíces várias li num blogue que há pessoas que acreditam que uma espécie de selecção natural nos garante, vou dar um exemplo, que o director de programas da TVI é a pessoa mais apropriada e capaz para o lugar e que ganha assim a vida não por dinâmicas contingências mas porque existe uma força justiçeira que ordena o caos social de modo a que cada um acabe no sítio certo.

Nero era assim com certeza o homem mais apropriado para governar Roma e Hitler dirigiu a Alemanha porque naquela altura não havia ninguém melhor do que ele para o fazer.
Bush, vê-se bem, é o mais qualificado americano que lá têm.
O bom aspecto, as boas maneiras, a inteligência superior e o refinado sentido de humor são, evidentemente, as razões para ser aquele o apresentador do Preço Certo.

Os narizes foram feitos para usar óculos. Por isso usamo-los. As pernas destinam-se claramente ao uso de calças. Por isso as vestimos.

E todos os génios que passaram fome e foram miseráveis na altura em que outros, fazendo as mesmas coisas, apodreciam de riquezas e honrarias, não são senão bons exemplos dessa selecção justiçeira.

Lavoisier, o melhor cérebro que a França alguma vez teve, viu-se sem ele por ordem de quem sabia o que estava a fazer pois não é possível chegar a ter esse tipo de poder sem que seja por qualidades pessoais inultrapassáveis.

Todos sabemos que são sempre eleitos para os cargos de chefia os que têm mais capacidade, mais ideias e nunca os patetas alegres que todos sabem inofensivos.

Mesmo que assim fosse não ficaríamos melhor: continuaríamos a ser chefiados por incompetentes pois todos iriam sendo justamente promovidos na hierarquia até ao seu nível de incompetência.

Nem tudo é mau: pelo menos pode deduzir-se que quem assim pensa não foi abusado sexualmente pelo bispo da paróquia. Mas é suficientemente estúpido e injusto para pensar que quem teve outra sorte, era porque na altura não havia ninguém melhor para ser bispo do que um pedófilo sociopata.

Só com muito Prozac se pode ver assim o mundo.

Não saberão, hó santa ignorância, que quando há um homem no sítio certo o mundo pula de contente, as estrelas brilham mais e que se ouvem os anjos tocar trompetas?

1 comment:

  1. Bem... Agostinho da Silva dizia, que tudo acontece com um fim, mesmo no caso de Hitler.
    Eu também sou mais terra-a-terra, mas estarei eu, nós, certos?

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